segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Tim Vickery: Minha primeira geladeira e por que o Brasil de hoje lembra a Inglaterra dos anos 60

Artigo imperdível do jornalista inglês Tim Vickery, da BBC Brasil. As pessoas precisariam entender que ninguém é especial nem melhor do que qualquer outra pessoa. A elite brasileira não suporta dividir o mesmo espaço com a "classe menos favorecida", conhecidos também como "pobres".

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Tim Vickery: Minha primeira geladeira e por que o Brasil de hoje lembra a Inglaterra dos anos 60

Acho que nasci com alguma parte virada para a lua. Chegar ao mundo na Inglaterra em 1965 foi um golpe e tanto de sorte. Que momento! The Rolling Stones cantavam I Can’t Get no Satisfaction, mas a minha trilha sonora estava mais para uma música do The Who, Anyway, Anyhow, Anywhere.

Na minha infância, nossa família nunca teve carro ou telefone, e lembro a vida sem geladeira, televisão ou máquina de lavar. Mas eram apenas limitações, e não o medo e a pobreza que marcaram o início da vida dos meus pais.

Tive saúde e escolas dignas e de graça, um bairro novo e verde nos arredores de Londres, um apartamento com aluguel a preço popular – tudo fornecido pelo Estado. E tive oportunidades inéditas. Fui o primeiro da minha família a fazer faculdade, uma possibilidade além dos horizontes de gerações anteriores. E não era de graça. Melhor ainda, o Estado me bancava.

Olhando para trás, fica fácil identificar esse período como uma época de ouro. O curioso é que, quando lemos os jornais dessa época, a impressão é outra. Crise aqui, crise lá, turbulência econômica, política e de relações exteriores. Talvez isso revele um pouco a natureza do jornalismo, sempre procurando mazelas. É preciso dar um passo para trás das manchetes para ganhar perspectiva.

Será que, em parte, isso também se aplica ao Brasil de 2015?

Não tenho dúvidas de que o país é hoje melhor do que quando cheguei aqui, 21 anos atrás. A estabilidade relativa da moeda, o acesso ao crédito, a ampliação das oportunidades e as manchetes de crise – tudo me faz lembrar um pouco da Inglaterra da minha infância.

Por lá, a arquitetura das novas oportunidades foi construída pelo governo do Partido Trabalhista nos anos depois da Segunda Guerra (1945-55). E o Partido Conservador governou nos primeiros anos da expansão do consumo popular (1955-64). Eles contavam com um primeiro-ministro hábil e carismático, Harold Macmillan, que, em 1957, inventou a frase emblemática da época: "nunca foi tão bom para você" ("you’ve never had it so good", em inglês).

É a versão britânica do "nunca antes na história desse país". Impressionante, por sinal, como o discurso de Macmillan trazia quase as mesmas palavras, comemorando um "estado de prosperidade como nunca tivemos na história deste país" ("a state of prosperity such as we have never had in the history of this country", em inglês).

Macmillan, "Supermac" na mídia, era inteligente o suficiente para saber que uma ação gera uma reação. Sentia na pele que setores da classe média, base de apoio principal de seu partido, ficaram incomodados com a ascensão popular.

Em 1958, em meio a greves e negociações com os sindicatos, notou "a raiva da classe média" e temeu uma "luta de classes". Quatro anos mais tarde, com o seu partido indo mal nas pesquisas, ele interpretou o desempenho como resultado da "revolta da classe média e da classe média baixa", que se ressentiam da intensa melhora das condições de vida dos mais pobres ou da chamada "classe trabalhadora" ("working class", em inglês) na Inglaterra.

Em outras palavras, parte da crise política que ele enfrentava foi vista como um protesto contra o próprio progresso que o país tinha alcançado entre os mais pobres.

Mais uma vez, eu faço a pergunta – será que isso também se aplica ao Brasil de 2015?

Alguns anos atrás, encontrei um conterrâneo em uma pousada no litoral carioca. Ele, já senhor de idade, trabalhava como corretor da bolsa de valores. Me contou que saiu da Inglaterra no início da década de 70, revoltado porque a classe operária estava ganhando demais.

No Brasil semifeudal, achou o seu paraíso. Cortei a conversa, com vontade de vomitar. Como ele podia achar que suas atividades valessem mais do que as de trabalhadores em setores menos "nobres"? Me despedi do elemento com a mesquinha esperança de que um assalto pudesse mudar sua maneira de pensar a distribuição de renda.

Mais tarde, de cabeça fria, tentei entender. Ele crescera em uma ordem social que estava sendo ameaçada, e fugiu para um lugar onde as suas ultrapassadas certezas continuavam intactas.

Agora, não preciso nem fazer a pergunta. Posso fazer uma afirmação. Essa história se aplica perfeitamente ao Brasil de 2015. Tem muita gente por aqui com sentimentos parecidos. No fim das contas, estamos falando de uma sociedade com uma noção muito enraizada de hierarquia, onde, de uma maneira ainda leve e superficial, a ordem social está passando por transformações. Óbvio que isso vai gerar uma reação.

No cenário atual, sobram motivos para protestar. Um Estado ineficiente, um modelo econômico míope sofrendo desgaste, burocracia insana, corrupção generalizada, incentivada por um sistema político onde governabilidade se negocia.

A revolta contra tudo isso se sente na onda de protestos. Mas tem um outro fator muito mais nocivo que inegavelmente também faz parte dos protestos: uma reação contra o progresso popular. Há vozes estridentes incomodadas com o fato de que, agora, tem que dividir certos espaços (aeroportos, faculdades) com pessoas de origem mais humilde. Firme e forte é a mentalidade do: "de que adianta ir a Paris para cruzar com o meu porteiro?".

Harold Macmillan, décadas atrás, teve que administrar o mesmo sentimento elitista de seus seguidores. Mas, apesar das manchetes alarmistas da época, foi mais fácil para ele. Há mais riscos e volatilidade neste lado do Atlântico. Uma crise prolongada ameaça, inclusive, anular algumas das conquistas dos últimos anos. Consumo não é tudo, mas tem seu valor. Sei por experiência própria que a primeira geladeira a gente nunca esquece.

*Tim Vickery é colunista da BBC Brasil e formado em História e Política pela Universidade de Warwick

Fonte: http://www.conversaafiada.com.br/economia/nunca-foi-tao-bom-para-voce

CARTA ABERTA AOS MINISTROS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

Excelências, Data Vênia

Escrevo-lhes na condição de um leigo na Ciência do Direito, mas um cidadão com ficha criminal limpa, residindo em local sabido, aposentado, depois de passar quase quarenta e dois anos em salas de aula, contribuindo, com a minha força de trabalho e os pagamentos de tributos, para o desenvolvimento desse país.

Assim, a priori desculpo-me por ferir as leis desse país, se isto vier a acontecer, neste texto.
Mesmo nos mais cruéis e duros momentos da Ditadura Militar esperei pelo STF, confiando que aí estava a única força capaz de, pacificamente, à sombra da lei, neutralizar o arbítrio.

O tempo passou, conquistamos melhores dias, com liberdade de pensamento, opinião e manifestação, o que me encorajou a escrever-lhes.

Se no passado a desonestidade se manifestava nas pontas das baionetas e residia em quartéis, hoje se manifesta nas pontas das canetas e reside nos palácios, nas mansões, nas estatais, no poder público e privado, a ele ligado.

Dentro da mesma expectativa do passado, de ver no STF a última cidadela da justiça, após o que só resta a justiça com as próprias mãos, mãe da criminalidade e das revoluções, confesso-me temeroso e decepcionado.

Não me aterei a detalhes, até por uma questão de espaço, enumerando a série imensa de escândalos transformados em processos, que dormem nas gavetas, escaninhos e corredores do STF, aguardando decurso de prazo como artimanha para o exercício da impunidade.

Assim é com o chamado Mensalão Mineiro ou Mensalão Tucano, com o flagrante de um helicóptero com meia tonelada de pasta de cocaína, com o chamado Listão de Furnas, e dezenas, senão centenas de outros mais.

Examinando-se os nomes ligados as esses processos, parados, adormecidos, aguardando o esquecimento, não podemos afastar de pronto a tendenciosidade de pelo menos parte desta corte, uma vez que em ocasiões semelhantes, por delitos iguais, semelhantes ou assemelhados, urgiram os trâmites dos processos, com duras sentenças finais.

Se tudo isto vem me decepcionando a tempos porque, repito, em questão de justiça, após o STF nada, só restando ao injustiçado agir por conta própria, a mercê da sua consciência e da sua coragem, duas declarações de ministros transformaram a minha decepção em apreensão: a primeira foi de Sua Excelência o Senhor Gilmar Mendes, e a segunda, de Sua excelência, Senhora Cármen Lúcia, ambos criminalizando parcela considerável da sociedade, o que passo a comentar a seguir.

Em recente palestra, o Sr. Gilmar Mendes, referindo-se à presidente Dilma, afirmou que ela teria falado “nós fazemos o diabo para ganhar a eleição”, seguindo, no seu comentário: “Agora sabemos o que eles podem fazer para ganhar a eleição, mas não na urna, em outro campo”.

A presidente Dilma realmente afirmou isso, quando candidata, numa disputa acirradíssima.
Descontextualizar é típico das pessoas pouco inteligentes, que não é o caso do magistrado em questão, ou que estejam agindo de má fé.

A seguir o Ministro emitiu um juízo de valor.
Ora, de um magistrado espera-se discrição e isenção, mais que necessárias, obrigatórias, se as críticas são direcionadas a alguém que possa  vir a ser julgada pela corte suprema, da qual o Sr. Gilmar faz parte.

Juízes devem se ater aos autos dos processos e aos códigos judiciários, sob pena de estarem sendo levianos.

Quando Sua excelência expediu dois Habeas Corpus ao banqueiro Daniel Dantas, em menos de 48 horas, certamente agiu preso aos autos e à legislação, o mesmo acontecendo quando deu um Habeas Corpus a um médico estuprador que, sedando as suas pacientes, as estuprava (o médico fugiu e hoje vive nababescamente, no Líbano).

Descontextualizando, o que devo pensar dessas iniciativas? Não se justificando nos autos dos processos, o que levaria um Juiz a tal iniciativa?
Não o estou acusando de nada, apenas criando ilações nos mesmos moldes em que ele criou, em relação à presidente Dilma.

Depois a ministra Cármen Lúcia, referindo-se a mais um corrupto preso, este ligado à banda que permanece incólume no STF, preso por dois motivos: ser filiado à sigla que governa este país e, sem saber que estava sendo gravado, ter se referido a ligações de pelo menos quatro ministros desta corte com corruptos que, a pelo menos vinte anos, espoliam e infelicitam este país, assim se pronunciou: “A maioria de nós acreditou que a esperança tinha vencido o medo...”, repetindo o slogan de campanha do partido que está no governo.

Pelo cunho da afirmação, este pronunciamento é de um magistrado ou de um político em campanha?

Muitas vezes, mais que palavras, atitudes e iniciativas não condizem com a Magistratura, e menos ainda com o Ministério que exercem, e um bom exemplo disso é o Ministro Gilmar Mendes reunir-se com parlamentares, na casa do Deputado Eduardo Cunha, para traçarem diretrizes de impeachment da Presidente da República.

Primeiro que ligações tão estreitas entre poderes constitucionalmente independentes é espúria, ilegítima, ilegal.

Segundo que invalida a corte na sua essência, quando um Ministro vai à casa de um parlamentar que está sendo processado por corrupção, e que deverá ser julgado por esta mesma corte, para tratar da deposição de alguém que também, em tese, poderia vir a ser julgada por essa corte, criando um vício de origem, inabilitando a corte, por tendenciosa e parte ativa no processo.

Perdido em tantas contradições, busquei uma justificativa capaz de mostrar que estou errado, equivocado, sendo injusto e encontrei a afirmação da Excelentíssima Senhora Rosa Weber, também Ministra nesta corte, por ocasião da condenação do político José Dirceu: “Não tenho prova cabal contra Dirceu, mas vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite”, Data Vênia, o equivalente a um médico cirurgião dizer “não tenho exames que atestem a doença no paciente, mas vou fazer a cirurgia porque o bisturi me permite”.

Se um dia conhecemos a ditadura do Executivo, no chamado Estado Novo, depois a dos Militares, além e acima dos três poderes, isto nos mostrou a inconveniência das ditaduras, em todas as suas formas e modalidades, inclusive do Judiciário.

Senhores, rogo a Deus e às Vossas consciências, para que a Suprema Corte da Justiça brasileira dispa-se da capa político partidária, do manto ideológico, e volte a vestir a toga da isenção, ferramenta primeira a nortear a justiça, porque sem ter a quem apelar, sem ter em que confiar, a nós só restarão as iniciativas pessoais, seguindo-se a barbárie, o caos, o fim, como sociedade organizada e civilizada.

Respeitosamente

Francisco Costa

Rio de Janeiro, 29/11/2015.

O que fazer diante do áudio vazado da Secretaria de Estado de Educação de São Paulo?

A mídia alternativa “Jornalistas Livres” conseguiu gravar o áudio de uma reunião da Secretaria de Educação do estado de São Paulo em que planejavam-se ações para derrotar o movimento de ocupações e impor o projeto de reorganização. O encontro era conduzido por Fernando Novaes, chefe de gabinete e braço direito do secretário de educação, Herman Voorwald, e contava com a presença de 40 dirigentes de escolas. Cabe destacar que a reunião foi realizada em pleno domingo, o que demonstra o tom de urgência e o desespero de Alckmin. O tom geral da reunião indica que o governo adotará uma ofensiva política na próxima semana (Novaes se expressa de forma agressiva, e chega a falar em “guerra” e “guerrilha”), o que exigirá ainda mais organização e resistência por parte dos estudantes.

Para que possamos vencer o governo nesse momento, devemos observar alguns elementos centrais da sua estratégia:

1) Não retroceder: Fernando Novaes afirma que o governador “nem cogita” abandonar o projeto de reorganização. Inclusive, o decreto da reorganização deve ser assinado por Alckmin e divulgado no Diário Oficial nesta terça, dia 01/12.

2) Fato consumado: O governo pretende já adotar as medidas necessárias para consolidar a reorganização (como a transferência de alunos) para assim tornar esta medida um fato consumado, irreversível. Em outras palavras, ignorar a reivindicação das escolas ocupadas para adotar a reorganização a toque de caixa nas demais.

3) Desmoralização e “radicalismo X diálogo”: Este foi o ponto mais enfatizado pelo chefe de gabinete. O governo pretende construir a ideia de que o movimento não possui reivindicações concretas, não está disposto ao diálogo e possui motivações político-partidárias. A orientação é simplesmente ignorar a demanda central pela anulação da reorganização e alegar que não existem reivindicações particulares de cada escola ocupada. Além disso, devem ser criados falsos canais de negociação (falsos porque o próprio Novaes inicia a reunião dizendo que o governo não irá retroceder) e, diante de uma recusa do movimento em participar desses espaços ou aceitar os seus termos, acusa-lo de ser radical e não querer o diálogo. Em outras palavras, Alckmin quer inverter o jogo, e fazer parecer que o movimento é antidemocrático, e não ele.

4) Contra-propaganda: Seguindo o conselho do bispo Dom Odilo Scherer (você não leu errado. É isso mesmo: o bispo da Igreja Católica dá conselhos ao governador do PSDB sobre educação pública), o governo dará a batalha política para convencer professores e pais de alunos do projeto de reorganização. Inclusive, pediu para os dirigentes ligarem para os pais de alunos em escolas ocupadas.

5) Realizar pequenas concessões: Novaes aconselha os dirigentes a atender reivindicações pontuais dos manifestantes caso isso contribua para diminuir a tensão política e garantir o fundamental, que é a reorganização.

6) Repressão: A decisão do Tribunal de Justiça não permite, na maioria das cidades com escolas ocupadas, que a polícia atue com mandado de reintegração de posse. No entanto, a orientação é que caso ocorra tensão entre manifestantes que queiram desocupar e aqueles que querem manter a ocupação, a polícia ajude os primeiros. Em outras palavras, usar a própria comunidade para subverter uma decisão judicial. Além disso, Novaes anuncia que a Secretaria de Segurança Pública “flagrou” um carro que seria da APEOESP nos arredores de uma ocupação e pretende, com isso, processar o sindicato.

Diante de tudo isso, o que devemos fazer para resistir?

Em primeiro lugar, espalhar com a maior força possível o áudio da reunião e denunciar a articulação do governo. Sabemos que a mídia paulista blinda Geraldo Alckmin e nossa atuação será fundamental.

Mas o mais importante é vencer a batalha política de convencimento da comunidade escolar e da opinião pública. Devemos divulgar nossas iniciativas, convidar a comunidade a debater, fortalecer nossos argumentos e denunciar a precariedade da rede estadual. Além disso, devemos denunciar a falácia dos canais de negociação do governo, mas sem recusar por princípio a participação nesses espaços para não cairmos na sua armadilha de nos criar a pecha de radicais e indispostos ao diálogo. Ao mesmo tempo, devemos denunciar o fato de que o governo ignorou o movimento e na prática já iniciou a implementação da reorganização.

É preciso ficar atento também em relação às demandas específicas das escolas. Devemos aproveitar a força política das ocupações para arrancar das direções melhorias em nossas escolas. Não podemos perder essa oportunidade!

Entretanto, não podemos deixar com que isso seja usado para nos distrair da reivindicação central do movimento, que é o fim da reorganização.

Por último, é preciso estar atento a todas as tentativas de intimidação e repressão. Muitos dirigentes têm feito ameaças, intimidações, chantagens, ofensas ou proferido informações falsas a professores e alunos. Isso tudo é crime e deve ser registrado e denunciado. A Polícia Militar também tentará reprimir as ocupações. Mas isto também está em desacordo com a determinação da Justiça. Todas as ações da PM devem ser filmadas, fotografadas e, se possível, acompanhadas por advogados.

Essa semana será crucial para o sucesso do nosso movimento. Estivemos em vantagem nessa luta até agora. Precisamos manter a força das ocupações, convencer mais colegas e resistir! O estado vai vir “quente”, “mas nós já tá fervendo!”

* Este texto foi produzido por um professor da rede pública que apóia o movimento, mas que preferiu não se identificar, por medo de ser perseguido politicamente

Fonte: http://juntos.org.br/2015/11/o-que-fazer-diante-do-audio-vazado-da-secretaria-de-estado-de-educacao-de-sao-paulo/

domingo, 29 de novembro de 2015

Em Pauta Conjuntura: 3º Congresso da Juventude do PT




Entre 19 e 22 de novembro, foi realizado o 3º Congresso da Juventude do PT em Brasília/DF. Durante o encontro, houve o debate de conjuntura “Os desafios do novo Brasil: um passo à frente com o projeto democrático e popular”, no qual os jovens petistas reafirmaram o compromisso da juventude do partido em defender o governo Dilma Rousseff e os avanços das gestões do PT.
O ex-presidente Lula participou da abertura do Congresso, onde foi saudado pelos mais de 600 jovens presentes, e passou um importante recado: “Levantem a cabeça, não de arrogância, mas de quem sabe o que quer, que não vai permitir que destruam o nosso governo e o nosso partido. São vocês que vão assumir a construção desse partido e do País”. Além disso, Lula cobrou que os jovens petistas apresentem propostas para o futuro do País, em especial, para a educação e emprego: “Temos que sair desse congresso propondo alguma coisa mais forte de interesse da juventude desse País. O congresso precisa dizer qual a proposta da juventude do PT para a educação do Brasil. O que esse congresso vai aprovar como proposta ao governo sobre emprego para a juventude”.
No 3º Congresso, Jefferson Lima foi reeleito como secretário nacional da JPT. Para ele, o Congresso terminou com saldo muito positivo: “O Congresso teve ampla participação dos militantes de todas as forças políticas nos grupos de discussão, mesas de debate, no ato com nosso comandante Lula, em plenárias de auto-organização das mulheres, negros e LGBTs e tirou resoluções firmes contra Eduardo Cunha e sua agenda conservadora, com propostas concretas pra mudar a política econômica no rumo escolhido pelas urnas em 2014 e pelas reformas de base”. Na avaliação de Jefferson, o encontro também apontou a necessidade de um novo modelo de organização, “nos territórios, junto às bases e capaz de termos uma JPT para lutar por mais transformações no Brasil”.

Confira outros destaques:
1. Governo desmente boato e diz que decreto de Dilma não isenta mineradora
O governo federal precisou ir a público para desmentir um boato sobre o decreto editado pela presidenta Dilma Rousseff para auxiliar vítimas do desastre em Minas Gerais. O Decreto 8.572/2015 libera o saque do FGTS às vítimas do rompimento de barragens em Mariana (MG). Entretanto, foi distorcido e compartilhado em redes sociais como um dispositivo capaz de isentar a mineradora Samarco de responsabilidade sobre o desastre, o que não é verdade. Leia a nota completa aqui.
2. Ministra afirma que Dilma tem compromisso com recuperação do Rio Doce
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, disse a jornalistas, em Brasília, que a presidenta Dilma Rousseff tem compromisso com a recuperação da Bacia do Rio Doce, após o "maior desastre ambiental que o Brasil já enfrentou". Afirmou que o processo será longo e que talvez a bacia fique em condições melhores do que as anteriores ao rompimento de barragens no último dia 5, na cidade mineira de Mariana. Leia mais aqui.
3. Lula: “Critério adotado comigo não é o mesmo dos outros”
O ex-presidente Lula afirmou, em entrevista ao jornalista Roberto Dávila, que acha “grave” que o mesmo critério adotado com ele não seja adotado com outras pessoas, no que diz respeito às investigações da operação Lava Jato. Sobre a possível candidatura em 2018, o ex-presidente disse que espera que “o Brasil evolua tanto que [ele] não precise voltar”. Leia mais aqui.
4. Crise econômica foi alimentada artificialmente, diz diretor do Le Monde Diplomatique Brasil
O sociólogo Silvio Caccia Bava, diretor e editor chefe do Le Monde Diplomatique Brasil, alertou, durante palestra, sobre a real natureza da crise econômica que o Brasil atualmente enfrenta. Para ele, houve um processo de construção artificial de uma crise econômica, a partir da mídia e de acadêmicos. O movimento, segundo ele, teria iniciado logo após o final das eleições presidenciais que garantiram a reeleição de Dilma Rousseff: “No final de 2014, começamos a vivenciar um clima de terrorismo econômico para forçar uma mudança de rumos na política econômica”. Leia mais aqui.
5. Benedita da Silva publica homenagens a referências da luta negra que serve como aula de história
Para celebrar a Semana da Consciência Negra, a deputada Benedita da Silva publicou, em sua página no Facebook, uma série especial de homenagem a 39 personalidades históricas da luta do povo negro. A série aborda quase todos os aspectos da vida social: luta política, artes, religião, esportes, educação e ciência, entre outros. Cada post das personalidades homenageadas traz um perfil biográfico, de modo que o conjunto da série configura uma verdadeira aula de história sobre as lutas e conquistas da população negra. Leia mais aqui.
6. Acampamento golpista em frente ao Congresso é extinto
Foi extinto, no sábado (21), o acampamento em frente ao Congresso Nacional formado por grupos que pediam o impeachment da presidenta Dilma Rousseff e uma possível intervenção militar. O grupo, formado por cerca de 15 barracas, resistiu à ordem dada pelas presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, que deu um prazo para que os acampados deixassem a Esplanada dos Ministérios. Ao se negarem a deixar o local de forma pacífica, a Polícia Legislativa, responsável pela segurança do Congresso, retirou barracas e faixas, dispersando os manifestantes. Leia mais aqui.
7. Filósofo da Unicamp registra apoio a ocupações e afirma: 'Fechar escolas é crime'
O filósofo da Unicamp, Dermeval Saviani, esteve na Escola Estadual Carlos Gomes, no centro de Campinas, no interior paulista, para prestar solidariedade à ocupação realizada desde o último dia 13 pelos alunos contra a reorganização do ensino proposta pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB). Saviani gravou um vídeo na porta da escola para registrar seu apoio à mobilização estudantil em todo o estado. "Trata-se de uma mobilização que está em convergência com uma luta histórica que os educadores e a população deste país vêm desenvolvendo em defesa da educação pública, por uma escola pública de qualidade acessível a todos”. Leia mais aqui.
8. A direita volta ao poder na Argentina. E agora?
Mauricio Macri, candidato de oposição, venceu no segundo turno das eleições e será o próximo presidente da Argentina. É a primeira vez, desde que Hugo Chavez se elegeu presidente da Venezuela, em 1998, que um governo progressista da America Latina é derrotado e se interrompe a construção de alternativa ao neoliberalismo. Eleições anteriores, na Venezuela e no Brasil, pressagiavam dificuldades para a continuidade desses governos, com vitorias eleitorais estreitas. Mas as tendências indicavam que o governo de Cristina Kirchner conseguiria eleger seu sucessor, o que não ocorreu. Leia mais aqui.
9. 'Efeito Orloff' ou ressaca conservadora?
O ‘efeito Orloff’ borbulha no imaginário do conservadorismo brasileiro após a vitória da direita na Argentina. O raciocínio linear afirma que como as condições, sobretudo as condições políticas, são semelhantes, o desfecho eleitoral no Brasil, em 2018, será equivalente ao de domingo na Argentina. Goza-se, algo precocemente, o ‘Macri’ tropical que venceria então o ‘Scioli’ brasileiro. A crispação e a saturação políticas atribuídas ao kirchnerismo são transportadas para o outro lado da fronteira sem que ninguém se pergunte que ‘doença’ é essa, afinal, ‘congênita’ às fileiras progressistas. Leia mais aqui sobre a análise da vitória da direita nas eleições argentinas.
10. Governos petistas e a inovação da gestão pública
Em artigo para a revista Teoria & Debate, Esther Bemerguy explica que a natureza do desenvolvimento é profundamente política e aponta que a estratégia inclusiva, que desde 2003 mudou a realidade da população pobre do Brasil e expandiu a renda dos trabalhadores, deve ser a bússola para enfrentar os ajustes na economia. Segundo ela, existem soluções alternativas para o enfrentamento da crise que demandam grande esforço político, como a reforma tributária, a reforma política e o fortalecimento do pacto federativo com uma política clara de desenvolvimento regional. Leia mais aqui.
11. Após críticas à redução de velocidade, mortes no trânsito caem 50% na capital paulista
Embora duramente atacado por seus opositores, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), apostou na redução da velocidade nas vias principais como forma de melhorar o fluxo e prevenir acidentes. De acordo com dados divulgados ontem (22) pela Secretaria de Segurança Pública (SSP), o número de óbitos caiu pela metade em setembro deste ano, comparados com o mês de 2014. Leia mais aqui.
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Fonte: ENFPT

domingo, 22 de novembro de 2015

Ex-agente duplo conta como a CIA promove ‘guerras não violentas’ para implodir governos

Por Marco Weissheimer, em Sul 21

Entre 2004 e 2011, o escritor e professor cubano Raúl Antonio Capote Fernández atuou, a pedido da inteligência cubana, como agente duplo infiltrado na CIA. Raúl Capote foi contatado muito jovem por pessoas ligadas à agência de inteligência norte-americana e convidado a participar de um projeto que pretendia criar uma “oposição de novo tipo” em Cuba, capaz de, após o desaparecimento de Fidel Castro, iniciar uma “revolução suave” que acabasse por derrubar o governo de Havana. A sua missão era formar líderes universitários e criar o projeto “Genesis”, com o objetivo de estabelecer em Cuba a estratégia do “golpe suave”, elaborada por autores como Gene Sharp.

Em entrevista ao Sul21, Raúl Capote conta essa experiência, relata como ela fracassou em Cuba e diz que ela já foi aplicada em países como Venezuela, Irã e Líbia e que segue sendo implementada em diversas regiões do mundo. “A ideia da guerra não violenta consiste em ir solapando os pilares de um governo até que ele imploda. O objetivo não é fazer com que um governo renuncie. Se isso acontecer, o projeto fracassou. A ideia é que o governo imploda e que isso cause caos. Com o país em caos, é possível recorrer a meios mais extremos”, assinala.

Raúl Capote veio a Porto Alegre a convite da Associação Cultural José Martí/RS para participar de uma série de encontros e debates. Ele mantém o blogEl Adversário Cubano, onde conta outros detalhes sobre essa história e sobre outras “guerras não violentas” em curso no planeta.

Sul21Como é que você começou a trabalhar com assuntos de segurança em Cuba e sob que circunstâncias se tornou um agente duplo, atuando infiltrado na CIA?

Raúl Capote: Isso começou em 1986. Eu era um jovem inquieto e rebelde que fazia parte de uma organização chamada Associação Hermanos Saiz, que agrupava jovens poetas, pintores e escritores. Esse espírito rebelde para nós era algo muito natural. Fomos ensinados a ser assim. Creio que os serviços especiais norte-americanos confundiram esse espírito de rebeldia com um espírito de possível oposição ao sistema. Eles começaram a se aproximar de nós. Eu vivia em Cienfuegos, no centro-sul de Cuba, uma cidade que tinha uma importância estratégica nesta época porque a revolução queria convertê-la num centro industrial para o país. Havia muitas obras em construção, entre elas uma central Eletronuclear e fábricas de todo tipo. Era uma cidade muito jovem e onde trabalhavam muitos cubanos que tinham se formado na União Soviética e em outros países do campo socialista. Creio que essa conjuntura de ser uma cidade jovem e industrial, com muitos jovens interessados em temas da cultura, da política e da economia, chamou a atenção da CIA.

Eles começaram a se aproximar de nós por meio de organizações não-governamentais. A primeira pessoa que veio falar conosco foi Denis Reichler, um jornalista freelancer da revista Paris Match, que para nós era uma espécie de ídolo do jornalismo esportivo. O que admirávamos nele era sua atuação como jornalista que havia estado na África e em muitos outros lugares. Era uma referência positiva para se aproximar de um grupo de jovens tão rebelde. Ele nos colocou em contato com organizações não-governamentais que, supostamente, estavam interessadas em financiar projetos artísticos em Cuba. Nos colocou em contato com pessoas que começaram a planejar ajuda econômica e a trabalhar conosco, em um processo de aproximação que buscava ganhar a nossa confiança. Éramos jovens e estávamos começando a fazer literatura ou artes plásticas. Ainda não tínhamos nenhuma obra, só tentativas.

Era um processo de aproximação feito com muita cautela e sem pressa. Neste período, a Segurança de Estado cubana entrou em contato comigo, me explicou o que estava acontecendo, que aquelas pessoas não pertenciam, de fato, a organizações não governamentais e quais eram as suas reais intenções. Isso me dava três possibilidades. A primeira era seguir trabalhando com eles. A segunda era interromper o trabalho e o contato com eles. E a terceira possibilidade, que me foi proposta pela segurança cubana, era seguir trabalhando com eles, converter-me em um agente da segurança cubana e tratar de decifrar quais eram os planos dessas pessoas no mundo da cultura e das artes, especialmente junto à juventude.

Sul21Esse contato com a agência de segurança cubana e o trabalho que se seguiu daí aconteceram ainda em 1986?

Raúl Capote: Sim, em 1986. Para mim era algo extraordinário. Nos anos 80, existia na sociedade cubana toda uma mística sobre o trabalho da segurança cubana, que sempre foi muito popular. Havia uma história legendária sobre ela, que tinha frustrado planos da CIA contra Cuba. Pertencer a essa organização me pareceu algo maravilhoso. Não avaliava, então, o quão complicado seria o trabalho que eu teria que enfrentar nem a quantidade de renúncias que eu teria que fazer. Eu tinha 20 anos quando comecei esse trabalho. Foi um longo processo. Houve um momento em que ocorreu uma interrupção desse movimento de aproximação feito pelos inimigos de Cuba. Em 1987, houve uma grande denúncia pública. Mais de 30 agentes da segurança cubana expuseram o trabalho de quase 96 oficiais da CIA que estavam atuando dentro do país.

Isso fez com que a CIA se tornasse mais cautelosa e tomasse algumas precauções. Passaram-se então alguns anos de contato muito leve por meio de algum jornalista ou de um representante de uma ong. Em 1994 eu fui morar em Havana e passei a trabalhar como organizador do sindicato de trabalhadores da cultura na cidade. Era uma mudança radical em muitos sentidos. Até então eu trabalhava com um universo de 3 ou 4 mil jovens e passei a dirigir 40 mil trabalhadores da cultura. Isso me tornou um alvo ainda mais interessante para a CIA. Eu era líder de um sindicato onde estavam praticamente todos os trabalhadores da cultura – artistas, músicos, escritores. Era um sindicato muito forte. Aí os contatos voltaram.

Eles passaram a me visitar com um plano mais complicado. Começaram a falar em dar informações sobre como se movia esse mundo da cultura, sobre como os jovens viam a Revolução naquele momento, etc. Esse processo vai se incrementando com o passar dos anos até 2004. Neste período, entramos em contato com associações e fundações mais vinculadas com o governo dos Estados Unidos como a Usaid e a Fundação Panamericana para o Desenvolvimento. Em 2004 começou então o processo do meu recrutamento pela CIA. Neste ano, conheci muitos oficiais da agência, inclusive aquele que seria meu chefe mais tarde.

Sul21Conheceu esses oficiais da CIA em Cuba mesmo?

Raúl Capote: Sim, em Cuba. Em 2004, então, eles me recrutam e eu me converto em um agente da CIA com uma tarefa muito específica. Minha tarefa não era fazer espionagem, até porque eu não tinha acesso mesmo a informações muito importantes, ou praticar ações encobertas ou atos terroristas, como normalmente faziam em Cuba. O meu trabalho era promover a guerra cultural, a guerra no terreno das ideias, que eles definem muito bem ao chamar de guerra cultural. Nós usamos expressões complicadas para isso como subversão político-ideológica ou algo do gênero. Eles simplificam. É guerra cultural mesmo. O que eu não imaginava era chegar a conhecer o quanto de verdade havia no controle real que a CIA tem sobre os meios de comunicação e a indústria cultural nos Estados Unidos e no mundo inteiro. Descobri que isso existe de fato, não é teoria da conspiração como alguns acreditam.

A CIA utiliza o cinema, as rádios, as televisões os jornais e outros canais a partir de um plano prévio. A agência criou um departamento que se especializou neste tipo de guerra cultural. Eu entrei neste mundo e conheci muitas pessoas que trabalhavam nele. Em 2005, eu me converti em chefe de um projeto específico da CIA em Cuba, chamado de Projeto Gênesis.

Sul21Você chegou a ir aos Estados Unidos para fazer algum tipo de treinamento especial ou para reuniões?

Raúl Capote: Sim, tive contato direto com eles. O Gênesis era um projeto muito bem pensado e que me permitiu conhecer também como a CIA estava trabalhando na América Latina com a mesma ideia de guerra cultural. Esse projeto não foi uma novidade cubana, mas sim o resultado de um trabalho realizado pelos Estados Unidos em muitas regiões da América Latina. Ele começou a ser implementado no processo de transição democrática na América Latina, no Chile e em muitos outros lugares. Essa experiência partiu da constatação de que as universidades latino-americanas tinham sido nas últimas décadas um foco de insurreição e de formação de militantes de esquerda. Eles decidiram mudar isso e converter a universidade latino-americana em um centro de produção do pensamento da direita e não da esquerda. Eles pensavam que o fato de essas universidades terem atravessado um período de repressão muito grande, quando muitos professores e estudantes militantes de esquerda foram mortos, facilitava um pouco esse trabalho de conversão.

Assim, começaram a implementar em toda a América Latina um milionário plano de integração acadêmica. Muitos estudantes e professores foram fazer esse intercâmbio nos Estados Unidos, onde realizaram diversos cursos, entre eles o famoso curso de liderança. A ideia era criar uma nova classe dirigente dentro das universidades e, por consequência, nos seus respectivos países. A quantidade de líderes mundiais hoje que são fruto desses programas é impressionante. Esse processo foi aplicado na Venezuela, por exemplo, com uma ênfase muito forte, a partir de 2009.

Entre 2003 e 2004 se enviava, mensalmente, um grupo de dez estudantes com um professor para cursos de formação e liderança na antiga Iugoslávia, atual Sérvia, sob a coordenação do antigo grupo de resistência sérvio, onde estava Srdja Popovic e uma série de jovens que contavam a experiência da derrubada de Milosevic.

Participavam desses cursos também o Instituto Albert Einstein, o Instituto de Luta pela Guerra Não Violenta, criado pelos sérvios, o multimilionário húngaro George Soros que colocou muito dinheiro neste projeto, e o Instituto Republicano Internacional que recebia fundos do governo norte-americano e o aplicavam nestes cursos. Aí se formaram muitos dos líderes da chamada Primavera Árabe e muitos líderes da oposição síria. Criou-se toda uma estrutura para fomentar o uso da chamada luta não violenta e do golpe suave. Estudantes venezuelanos, acompanhados de alguns professores, começaram a fazer esses cursos de forma periódica. O objetivo era repetir esse processo em Cuba, para formar ativistas especializados no manejo da guerra não violenta.

Eu recebi uma preparação intensa de como se organiza um golpe suave para derrubar um governo, quais são as medidas fundamentais para construir essa estratégia. É claro que, dentro de Cuba, seria muito mais difícil fazer essa formação. A alternativa encontrada foi usar o sistema de bolsas de estudo para promover o intercâmbio de estudantes. A ideia era propor, por exemplo, uma bolsa de estudos de seis meses ou mais em Jerusalém para um estudante de história ou ciências sociais. Ou então oferecer para uma jovem estudante de arte uma bolsa em Colônia, na Alemanha. Escolheu-se universidades muito pontuais, que não fossem norte-americanas e que pudessem ser atrativas para determinadas áreas de interesse. Mas os cursos oferecidos nestas universidades não eram exatamente sobre arte ou sobre história, mas sim sobre formação de lideranças, com cursos de inglês, cursos de táticas de guerra não convencional, sobre como funcionavam as organizações democráticas. O objetivo era que, mais tarde, esses estudantes se transformassem em elementos de mudança em Cuba.

Sul21E os estudantes que recebiam essas bolsas, sabiam da real natureza desse intercâmbio?

Raúl Capote: Não sabiam. O truque da bolsa era que, em geral, oferecia um curso de seis meses. As pessoas supunham que o curso era relacionado com a sua especialidade. Por que não passar seis meses em Jerusalém, Colônia ou outro local, com tudo pago, recebendo um curso de inglês, entre outras coisas? – pensavam. A agência estimava que, se cada dez estudantes, um se convertesse em um futuro opositor, já seria um grande lucro.

Esse plano começou a ser implementado em Cuba com muita força a partir de 2005, 2006, sem muitos resultados. Para surpresa da CIA, não houve muitos interessados pelos cursos, que não tiveram o impacto esperado junto aos jovens cubanos. Além disso, eu é que estava dirigindo a operação…Era possível que não tivesse êxito…(risos). Outro plano envolvendo a minha atuação como agente era fazer com que eu ocupasse uma posição elevada dentro do Ministério da Educação. Pretendiam me dar todo o apoio possível para tanto, apoio acadêmico e inclusive monetário. A ideia era me converter em uma pessoa imprescindível no sistema de educação cubano por minhas relações e contatos no mundo acadêmico.

Uma das coisas mais importantes para eles nesta época era o tempo que lhes restava. Estavam muito preocupados com essa questão temporal, pois aguardavam o momento do desaparecimento de Fidel. Avaliavam que muitos dos líderes históricos da Revolução Cubana não estariam mais em condições de assumir o posto de comando quando isso acontecesse. Trabalhavam com um período de dez ou quinze anos, no qual se formaria em Cuba uma nova oposição, que não teria nada a ver com a oposição anterior, que eles próprios consideravam desprestigiada e sem base social. Queriam criar uma oposição de novo tipo.

Sul21: Como pretendiam fazer isso?

Raúl Capote: A estratégia utilizada em Cuba se diferenciou um pouco daquela usada em outros lugares. Eles queriam formar uma oposição de esquerda, pois avaliavam que uma oposição de direita não teria êxito em Cuba, pelo enraizamento da tradição e do pensamento revolucionário e também pelo fato que a direita nunca teve uma posição muito significativa junto ao povo cubano. Passaram a tentar criar, então, organizações que fossem supostamente de esquerda. Essa era a estratégia central do projeto Genesis. Para nos auxiliar nesta tarefa, nos deram acesso a modernos meios eletrônicos de comunicação que nos permitiram acessar a internet, as redes sociais e outros espaços. A ideia era nos dotar de uma grande capacidade de mobilização e começar a gerar conteúdo dentro do país. Isso tudo seria feito em segredo, em baixo perfil, nos treinando no uso dessas novas tecnologias.

Em 2007, me entregaram um equipamento de comunicação que se conectava por satélite com o Departamento de Defesa e que não podia ser rastreado. Esse equipamento permitia que eu tivesse comunicação direta com meu chefe em Washington e também criar uma rede em Cuba indetectável. De forma concomitante com isso, se começou outro projeto por meio do qual começaram a introduzir telefones celulares no país. Em função do bloqueio imposto pelos Estados Unidos, Cuba não tinha muitos celulares. Eles começaram a distribuir celulares de maneira gratuita, por diferentes meios, e criaram o programa ZunZuneo, que pretendia ser uma espécie de twitter cubano.

Essa rede começou a distribuir mensagens de texto principalmente e notícias relacionadas ao esporte, à cultura e às artes. A ideia era criar dentro do país um hábito de consultar essa rede e fazer com que as pessoas confiassem nela. Assim, no momento necessário, ela começaria a enviar mensagens para mobilizar ações contra a revolução. Fizeram alguns testes no país, em determinados momentos, que não deram resultado, mas seguiram implementando o projeto. Mais tarde, fizeram alguns aperfeiçoamentos e criaram outro sistema que se chamou Piramideo, parecido com o ZunZuneo, mas com alguns acréscimos fruto de experiências no Oriente Médio, especialmente no Irã, onde foi utilizado como ferramenta de mobilização em determinadas situações dentro do país.

Sul21Qual foi o impacto dessas iniciativas na sociedade cubana, especialmente junto à juventude? Elas tiveram visibilidade?

Raúl Capote: Tudo era feito pensando em um determinado momento no futuro de Cuba onde deveria ocorrer uma mudança de governo. Eles pensavam que isso ocorreria entre 2015 e 2016, que é exatamente o momento que estamos vivendo agora. Neste momento, segundo o planejamento feito, já deveria estar formada uma oposição social de novo tipo, saída da universidade e integrada principalmente por estudantes e professores, mas também por artistas, pequenos comerciantes e representantes de outros setores que apoiassem essa ideia. O surgimento público desse novo movimento político se daria através do lançamento da organização Fundação Genesis para a Liberdade, que deveria se dar em um ano em que ocorressem eleições em Cuba (que ocorrem a cada cinco anos).

Essa organização até poderia ser considerada uma fundação, mas de “genesis” não tinha nada e de liberdade muito menos. Em primeiro lugar, porque o líder da organização, eu no caso, era um agente da CIA. Em segundo lugar, eu não podia tomar nenhuma decisão sem ouvir o grupo consultivo que era constituído por oficiais da CIA. Então, de liberdade não tinha nada. Por meio dessa fundação, se esperava criar um ou mais de um partido político supostamente de esquerda. O discurso desse novo partido consistiria em dizer que era preciso reformar e modernizar o socialismo cubano. A nossa principal palavra de ordem era esta: modernizar. “Precisamos colocar o socialismo à altura do tempo”, “a época heroica já passou”, “ninguém mais faz isso no mundo”…diríamos coisas assim.

Eles acreditavam que, com o desaparecimento de líderes históricos carismáticos da Revolução como Fidel, esse novo movimento político teria um grande impacto na sociedade cubana levando inclusive a uma fratura na unidade interna do país. O nascimento da Fundação Genesis como organização seria acompanhado por uma grande campanha midiática. Haveria uma coletiva de imprensa com alguns dos mais importantes meios de comunicação do mundo. O passo seguinte seria organizar ações de rua, manifestações, ocupação de espaços públicos de maneira pacífica com o objetivo de causar impacto na sociedade.

Sul21Qual era a meta principal dessa tática?

Raúl Capote: Em resumo, aplicar a cartilha de Gene Sharp, teórico do golpe suave. A ideia da guerra não violenta consiste em ir solapando os pilares de um governo até que ele imploda. O objetivo não é fazer com que um governo renuncie. Se isso acontecer, o projeto fracassou. A ideia é que o governo imploda e que isso cause caos. Com o país em caos, é possível recorrer a meios mais extremos. A meta em Cuba era esta: causar um caos tal no país que fizesse desabar todos os pilares da revolução. Neste cenário, várias possibilidades eram consideradas, entre elas, uma “intervenção humanitária” dos Estados Unidos no país. Outra era a instalação de um governo de transição que levasse a um governo de direita.

O truque fundamental do projeto Genesis era que tinha supostamente um discurso de esquerda, mas as propostas reais que defendia consistiam em privatizar praticamente tudo, inclusive a saúde e a seguridade social. Era um socialismo anti-socialista e anti-social, com terríveis medidas de austeridade. Eles diziam para não nos preocuparmos, pois o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e a comunidade cubana no exterior iriam apoiar a “reconstrução do país”. Mas esse projeto nunca conseguiu ter base social nem conseguiu formar estudantes como pretendia…

Sul21E você, na condição de agente duplo, se esforçava na implantação do projeto ou trabalhava contra ele?

Raúl Capote: Fazia tudo o que podia para que não tivesse resultado. Era um jogo de xadrez muito interessante. Eu tinha que fazer com que eles acreditassem que estava funcionando e, na prática, fazer com que não funcionasse. Era bem difícil. Mas o projeto tinha muitos pontos débeis. Um deles era a crença de que a revolução dependia de uma única pessoa. Acreditar que a Revolução Cubana é Fidel é um erro. Outro erro era acreditar que os cubanos são pessoas ingênuas.

Em 2006, Fidel anunciou que estava se afastando de suas funções por problemas de saúde e que seria substituído por Raul (seu irmão, Raul Castro). Esse era um momento propício para aplicar a estratégia da Fundação Genesis e eles precipitaram um conjunto de ações. Acreditavam que poderia ocorrer um levante no centro de Havana.

Para tanto, usaram um médico chamado Darsi Ferrer, um contrarrevolucionário desconhecido. No dia 13 de agosto de 2006, data de aniversário de Fidel, ele deveria provocar um levante em Havana e convocar uma coletiva para dizer que o país estava mergulhado no caos, que havia militares sublevados e que a população não queria Raul no governo. Planejaram gravar em um estúdio, de modo muito parecido com o que fizeram na Líbia onde filmaram ações que, na verdade, não estavam acontecendo. O plano era filmar cenários de repressão como se os militares cubanos estivessem reprimindo a população, e transmitir essas imagens para todo o mundo. A mim me surpreendeu muito que um oficial da CIA em Cuba tivesse o poder de pautar e subordinar os mais importantes meios de comunicação do mundo. Era isso que estava se planejando ali.

Sul21E qual era o seu papel neste plano?

Raúl Capote: Quando essas imagens do “caos” em Cuba tivessem sido transmitidas ao mundo, eu deveria convocar uma coletiva de imprensa e pedir uma intervenção militar dos Estados Unidos para conter as violações de direitos humanos. Eu não era um contrarrevolucionário ou opositor, mas um professor e acadêmico conhecido no país. A credibilidade da minha aparição seria maior. Fiquei com um grande conflito interno neste período. Eu jamais iria fazer aquele pedido de intervenção militar dos Estados Unidos.

Sul21O que aconteceu, então?

Raúl Capote: As coisas começaram a dar errado para eles muito rapidamente. Depois do anúncio do afastamento de Fidel, passaram-se alguns dias e não houve nenhum caos no país, que seguiu funcionando normalmente. Não houve manifestações, protestos, nada. As pessoas seguiram com suas vidas. O outro problema que ocorreu é que o médico escolhido para desencadear o levante ficou sabendo que os principais canais de Miami estavam dizendo que um opositor cubano chamado Darsi Ferrer iria se imolar pela democracia. Aquilo foi uma surpresa total, pois não estava em seus planos colocar fogo no próprio corpo e morrer. Ele ficou convencido que iam matá-lo e, no dia 13 de agosto, ao invés de ir ao lugar escolhido para a execução do plano, sai de casa e inventa uma desculpa para não ir até lá. E o projeto fracassa.

Sul21Quando você abandona a condição de agente duplo?

Raúl Capote: Em 2010, quando a Líbia entrou em situação de guerra civil, o governo cubano me pediu para participar de uma denúncia pública para que as pessoas ficassem sabendo como esse tipo de golpe é tramado. Era uma decisão muito difícil, pois trazia riscos para mim e para minha família. Mas aceitei a proposta e começamos a gravar um conjunto de programas chamado “As razões de Cuba”, onde um grupo de agentes como eu vai à televisão contar o que tinham vivenciado. O programa foi dividido em capítulos. O meu foi ao ar em 4 de abril de 2011, onde contei tudo isso na televisão.

Sul21Fora de Cuba, se fala muito da situação de restrição de acesso à internet e às redes sociais na ilha, que haveria controle e a população não teria livre acesso à rede. Qual é mesmo a situação do acesso à internet em Cuba?

Raúl Capote: Sim, constantemente se acusa o governo cubano de não permitir o livre acesso à internet. É uma grande mentira. Se formos olhar os discursos de Fidel nos anos 90, veremos que a revolução cubana sempre defendeu o acesso livre à internet. O problema é que os donos da internet são os norte-americanos, Cuba está cercada de cabos submarinos de fibra ótica, mas não pode usá-los por causa do bloqueio. Cuba não tem acesso à tecnologia necessária para garantir o acesso à internet para todos os seus cidadãos por que as empresas são proibidas, pelos Estados Unidos, de negociar com Cuba. Em função desse quadro, o acesso à internet tornou-se muito caro para Cuba. E ela é lenta porque é preciso uma infraestrutura que garanta que o sinal chegue em todos os lugares do país. Nós acreditamos que a internet é uma ferramenta para defender e propagar a revolução. Os Estados Unidos não querem que Cuba tenha livre acesso à internet, porque sabem isso significaria que poderíamos divulgar muito mais nossas ideias também.

É impossível no mundo hoje que uma sociedade se desenvolva sem a internet. Nós temos a Universidade de Ciências Informáticas, que é uma das maiores da América Latina e forma todos os anos milhares de engenheiros criadores de softwares e técnicos nesta área. É uma universidade que se auto-financia com a venda desses softwares. Temos escolas técnicas em todas as províncias que formam milhares de jovens para o uso das redes sociais e das novas tecnologias. Apesar do alto custo que ainda representa, a acesso e uso da internet em Cuba tem aumentado enormemente, apesar de todos os bloqueios que ainda sofremos.

Fonte: http://www.sul21.com.br/jornal/ex-agente-duplo-conta-como-a-cia-promove-guerras-nao-violentas-para-implodir-governos/

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10 CONSELHOS PARA OS MILITANTES DE ESQUERDA

Por Frei Betto*

1) MANTENHA VIVA A INDIGNAÇÃO

Verifique periodicamente se você é mesmo de esquerda. Adote o critério de Norberto Bobbio: a direita considera a desigualdade social tão natural quanto a diferença entre o dia e a noite. A esquerda a encara como uma aberração a ser erradicada. 

Cuidado: você pode estar contaminado pelo vírus social-democrata, cujos principais sintomas são usar métodos de direita para obter conquistas de esquerda e, em caso de conflito, desagradar aos pequenos para não ficar mal com os grandes. 

Criamos vícios de direita, perdemos o entusiasmo de ser criativos na luta. Mantenhamos viva a indignação: um militante não pode nunca perder seu senso crítico. Muitas vezes, por interesses pessoais, não se critica o outro. Será que estamos perdendo o poder de criticar de maneira construtiva? O poder não redime ninguém, o poder revela. Me lembro de uma vez ter ouvido um ditado que nunca mais esqueci: “Se queres saber quem é Juanito, dê-lhe um carguito”. Então eu pergunto: Será que estamos repetindo nos nossos Movimentos o sistema burguês, de lideranças burras, que fazem críticas pelas costas? A crítica é importante para rever os passos da caminhada.

2) A CABEÇA PENSA ONDE OS PÉS PISAM

Não dá para ser de esquerda sem “sujar” os sapatos lá onde o povo vive, luta, sofre, alegra-se e celebra suas crenças e vitórias. Teoria sem prática é o jogo da direita. Os nossos políticos se descolaram da base. Penso que se há um problema com os partidos de esquerda no Brasil, é ter eleitores e não ter militantes. Não se pode deixar de caminhar nas bases populares, mesmo que se vire presidente do país. É mantendo o vínculo com movimentos sociais que encontramos o gás que nos alimenta nessa luta.

3) NÃO SE ENVERGONHE DE ACREDITAR NO SOCIALISMO

O escândalo da Inquisição não faz os cristãos abandonarem os valores e as propostas do Evangelho. Do mesmo modo, o fracasso do socialismo no Leste europeu não deve induzi-lo a descartar o socialismo do horizonte da história humana.  Sempre me questionaram o seguinte: Você que é frade e se mete em política? Eu como cristão, sou discípulo de um preso político, Jesus foi preso, torturado e condenado por dois pesos do Estado, assim como Vladimir Herzog. Não podemos confundir os princípios com as experiências negativas, o modelo stalinista de socialismo fracassou, mas não o socialismo. A humanidade não tem futuro fora da partilha dos bens da terra. Todo mundo está de acordo que o Brasil precisa fazer ajustes fiscais, mas esses ajustes não podem ficar só no colo do trabalhador.

4) SEJA CRÍTICO SEM PERDER A AUTOCRÍTICA

Seja crítico, sem perder a autocrítica. Temos facilidade a dirigir críticas ao governo. Como ninguém é juiz de si mesmo, é preciso que outro fale aonde estamos vacilando.

Muitos militantes de esquerda mudam de lado quando começam a catar piolho em cabeça de alfinete. Preteridos do poder, tornam-se amargos e acusam os seus companheiros (as) de erros e vacilações. Como diz Jesus, vêem o cisco do olho do outro, mas não o camelo no próprio olho. Nem se engajam para melhorar as coisas. Ficam como meros espectadores e juízes e, aos poucos, são cooptados pelo sistema.

Autocrítica não é só admitir os próprios erros. É admitir ser criticado pelos (as) companheiros (as).

5) SAIBA A DIFERENÇA ENTRE MILITANTE E "MILITONTO"

"Militonto" é aquele que se gaba de estar em tudo, participar de todos os eventos e movimentos, atuar em todas as frentes. Sua linguagem é repleta de chavões e os efeitos de sua ação são superficiais. 

O militante aprofunda seus vínculos com o povo, estuda, reflete, medita; qualifica-se numa determinada forma e área de atuação ou atividade, valoriza os vínculos orgânicos e os projetos comunitários. 

É preciso que saibamos a diferença entre militante e "militonto". Cada um de nós devemos saber onde está nossa trincheira. Entramos na luta por alguma porta. Vivemos numa sociedade burguesa, com a cabeça feita pela grande mídia. Exemplo disso é a nossa mídia que enfia na cabeça do brasileiro que alimento envenenado, cheio de agrotóxico e de elementos cancerígenos é bom.

6) SEJA RIGOROSO NA ÉTICA DA MILITÂNCIA

A esquerda age por princípios. A direita, por interesses. Um militante de esquerda pode perder tudo: a liberdade, o emprego, a vida. Menos a moral. Ao desmoralizar-se, desmoraliza a causa que defende e encarna. Presta um inestimável serviço à direita. 

Há pelegos disfarçados de militante de esquerda. É o sujeito que se engaja visando, em primeiro lugar, sua ascensão ao poder. Em nome de uma causa coletiva, busca primeiro seu interesse pessoal. 

O verdadeiro militante, como Jesus, Gandhi, Che Guevara, é um servidor, disposto a dar a própria vida para que outros tenham vida. Não se sente humilhado por não estar no poder, ou orgulhoso ao estar. Ele não se confunde com a função que ocupa. 

Certa vez ouvi de Fidel, “Frei Betto, um revolucionário pode perder tudo, menos a moral. O patrimônio ético do militante é o que ele tem de mais importante”. A direita não posa de ética, mas nós, a esquerda sim. Por isso, quando pisamos na bola, a cobrança é tão pesada.

7) ALIMENTE-SE NA TRADIÇÃO DA ESQUERDA

É preciso oração para cultivar a fé, carinho para nutrir o amor do casal, "voltar às fontes" para manter acesa a mística da militância. Conheça a história da esquerda, leia (auto) biografias, como o "Diário do Che na Bolívia", e romances como "A Mãe", de Gorki, ou "As Vinhas de Ira", de Steinbeck. 

Ande sempre com um livro ainda que você tenha certeza de que não tenha tempo de abrí-lo. Precisamos de elementos para debater a atual esquerda, assim, não cometermos hoje os mesmos erros do passado.

8) PREFIRA O RISCO DE ERRAR COM OS POBRES A TER A PRETENSÃO DE ACERTAR SEM ELES

Conviver com os pobres não é fácil. Primeiro, há a tendência de idealizá-los. Depois, descobre-se que entre eles há os mesmos vícios encontrados nas demais classes sociais. Eles não são melhores nem piores que os demais seres humanos. A diferença é que são pobres, ou seja, pessoas privadas injusta e involuntariamente dos bens essenciais à vida digna. Por isso, estamos ao lado deles. Por uma questão de justiça. 

Um militante de esquerda jamais negocia os direitos dos pobres e sabe aprender com eles. 

Os pobres agem por princípio de necessidade, a elite age por interesse. É importante que saibamos que não existe pessoa mais culta que a outra, existem culturas distintas e socialmente complementares. O nosso povo é culto, só não sabe que é.

9) DEFENDA SEMPRE O OPRIMIDO, AINDA QUE, APARENTEMENTE, ELE NÃO TENHA RAZÃO

Quando criticam as ocupações do MST, dizendo que são agressivas ou coisa parecida, sempre respondo lembrando a quem perguntou que agressivo é o colonialismo, a escravatura, a política para os imigrantes. O exagero que o pequeno faz não é nada diante das enormes atrocidades organizadas pelos grandes para dominar o mundo.

São tantos os sofrimentos dos pobres do mundo que não se pode esperar deles atitudes que nem sempre aparecem na vida daqueles que tiveram uma educação refinada.

Em todos os setores da sociedade há corruptos e bandidos. A diferença é que, na elite, a corrupção se faz com a proteção da lei e os bandidos são defendidos por mecanismos econômicos sofisticados, que permitem que um especulador leve uma nação inteira à penúria. 

A vida é o dom maior de Deus. A existência da pobreza clama aos céus. Não espere jamais ser compreendido por quem favorece a opressão dos pobres. 

10) FAÇA DA ESPIRITUALIDADE UM ANTÍDOTO CONTRA A ALIENAÇÃO

Orar é deixar-se questionar pelo Espírito de Deus. Muitas vezes, deixamos de rezar para não ouvir o apelo divino que exige a nossa conversão, isto é, a mudança de rumo na vida. 
Falamos como militantes e vivemos como burgueses, acomodados ou na cômoda posição de juízes de quem luta.

Orar é permitir que Deus subverta a nossa existência, ensinando-nos a amar, assim como Jesus amava, libertadoramente. 

Não falo de fé. A espiritualidade pode ser religiosa ou não. É importante que cultivemos a nossa subjetividade. Falamos como militantes e vivemos como burgueses, acomodados ou na cômoda posição de juízes de quem luta. Os dons da vida são um mistério, a vida é toda centrada na experiência do amor, e o amor é um mistério. Não importa se uma pessoa é atéia ou à toa, tem é que ser revolucionária. E se tem uma coisa da qual nós podermos ter certeza é a de que o amor é revolucionário.

* Frei Betto é escritor, autor do romance "Entre todos los hombres" (Editorial Caminos, La Habana), entre outros livros.

Observação: Texto adaptado com as falas de Frei Betto em duas ocasiões diferentes, de acordo com as fontes abaixo.



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quinta-feira, 12 de novembro de 2015

GLOBO ENQUADRA AÉCIO E MANDA PSDB BAIXAR A BOLA

GLOBO ENQUADRA AÉCIO E MANDA PSDB BAIXAR A BOLA


Por meio do colunista Merval Pereira, o mais alinhado com o PSDB e com os interesses do editor João Roberto Marinho, o jornal O Globo mandou um duro recado ao senador Aécio Neves (PSDB-MG); "O PSDB errou muito ao jogar todas as suas fichas no impeachment e, mais que isso, apostar que poderia encontrar atalhos para chegar a ele sem respeitar os prazos, pulando etapas", afirmou Merval; outros erros, disse ele, foram a aliança com Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e os votos contra a estabilidade fiscal; "Todo o conjunto de ações para minar o governo da presidente Dilma acabou minando também a credibilidade do PSDB", disse Merval, afirmando que tucanos terão que recomeçar tudo de novo; coincidência ou não, desde ontem o PSDB parou de sabotar o País e assumiu o compromisso de não apoiar as pautas-bomba do Congresso
12 DE NOVEMBRO DE 2015 ÀS 09:39

247 – Desde ontem, o PSDB assumiu um novo discurso. Não só rompeu a aliança com Eduardo Cunha (PMDB-RJ), como também assumiu o compromisso em votar alinhado com temas que promovam a estabilidade fiscal.
Até então, a política do PSDB, sob a gestão de Aécio, era o "quanto pior, melhor" – o jogo consistia em sabotar a economia, para criar condições para um golpe, pactuado com Cunha. Por isso mesmo, os tucanos votaram contra o fator previdenciário e deram aval a todas as pautas-bomba do Congresso.
O PSDB, no entanto, foi chamado à razão por setores da elite econômica e empresarial e por grupos de mídia. Um exemplo, foi o jornal O Globo, em texto publicado nesta quinta-feira por Merval Pereira, o colunista mais alinhado com o PSDB e com os interesses do editor João Roberto Marinho.
"O PSDB errou muito ao jogar todas as suas fichas no impeachment e, mais que isso, apostar que poderia encontrar atalhos para chegar a ele sem respeitar os prazos, pulando etapas", disse Merval. "Aprovar a DRU (Desvinculação de Receitas da União), instrumento fundamental para o governo ter margem de manobra dentro do Orçamento, e que foi criado pelo próprio PSDB para contornar a rigidez das verbas vinculadas, é perfeitamente aceitável", pontuou ainda o colunista.
Coincidência ou não, o PSDB ontem afirmou que votará a favor da DRU, mecanismo que dá maior liberdade orçamentária ao governo (confira aqui). Leia, abaixo, a coluna do jornalista do Globo:

De volta ao começo
POR MERVAL PEREIRA
O PSDB parece que voltou a fazer política de maneira mais conseqüente. Passada a fase de buscar a qualquer custo apressar o impeachment, agora vai retomar o seu caminho natural.
O rompimento com Eduardo Cunha e a negociação para pontos importantes do ajuste fiscal fazem parte dessa nova postura de oposição consciente. Ser a favor do impeachment da presidente Dilma - e há motivos claros para isso -  não significa que se deva trabalhar para inviabilizar seu governo naquilo que concerne a questões do Estado brasileiro.
Aprovar a DRU (Desvinculação de Receitas da União), instrumento fundamental para o governo ter margem de manobra dentro do Orçamento, e que foi criado pelo próprio PSDB para contornar a rigidez das verbas vinculadas, é perfeitamente aceitável. Aprovar a volta da CPMF, não. 
O PSDB errou muito ao jogar todas as suas fichas no impeachment e, mais que isso, apostar que poderia encontrar atalhos para chegar a ele sem respeitar os prazos, pulando etapas.
Pressionado pelos movimentos de rua, os jovens deputados do PSDB – eles chamam “cabeças negras” contra “cabeças brancas” – foram muito afoitos achando que poderiam apressar o processo de impeachment da presidente Dilma, não entendendo que com isso estavam dando condições ao governo de denunciar um golpe. 
Não há golpe por que o instrumento democrático está previsto na Constituição, mas a partir do momento em que se quer encontrar caminhos mais curtos para chegar ao impeachment e para isso se conta com o apoio de um político como o Eduardo Cunha, completamente desacreditado mesmo antes de aparecerem as provas das contas ilegais na Suíça, é claramente um equívoco político.
Estava evidente desde o início que não valia a pena se aproximar tão efusivamente de Cunha, mesmo para alcançar um objetivo político maior, que é o afastamento da presidente Dilma.

Pouparam Eduardo Cunha imaginando que através dele poderiam chegar ao impeachment, e agora entenderam  que ele apenas faz chantagem com o governo e com a oposição para tudo ficar como sempre esteve, enquanto ele tiver esse poder na mão, está garantido.
Até agora, quem se salvou foi só ele, e, em conseqüência, a presidente Dilma. Na sua atuação oposicionista, o PSDB fez um trabalho retórico correto. Não houve uma decisão do governo que merecesse crítica que não recebesse do presidente do partido, senador Aécio Neves, a devida contestação, em notas oficiais, entrevistas coletivas ou discursos no Senado.
A atuação parlamentar do PSDB melhorou muito de intensidade e qualidade neste ano, tanto no Senado quanto na Câmara. Mas errou na questão propositiva. A proposta de governo apresentada pelo PMDB, elaborada pelo Instituto Ulysses Guimarães, é uma peça muito bem feita que deveria ter sido produzida pelo PSDB, que teoricamente tem mais condições estruturais para apresentar à sociedade propostas alternativas, e está na oposição, ao contrário do PMDB, que é governo.
Mas foi o PMDB que saiu na frente, graças a um trabalho coordenado pelo presidente da Fundação Ulysses Guimarães ex-ministro Moreira Franco. A tarefa da oposição é essa, apresentar alternativas ao governo que critica, e não ficar apenas pensando no fim do governo.
No afã de encurtar o mandato de Dilma, o PSDB ajudou a aprovar medidas que são verdadeiras bombas no orçamento do país, medidas que os tucanos não podiam apoiar, como o fim do fator previdenciário. O paradoxo é evidente: enquanto o PSDB apoiou o fim do fator previdenciário, o PMDB em seu documento faz a proposta de idade mínima para aposentadoria.
Todo o conjunto de ações para minar o governo da presidente Dilma acabou minando também a credibilidade do PSDB. Agora, o maior partido da oposição que aparece em todas as pesquisas como o favorito para eleger o próximo presidente da República, tem que refazer seu caminho, começar tudo de novo.

Fonte: Brasil 247